quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

terça-feira, 19 de outubro de 2010

O Casamento

A Marieta e o Zé

Zé de quem?

Zé da cachaça!

Marieta de quem?

Marieta do Zé!

Onde está?

Não demoro.

Com quem andas?

Ninguém.

Quer que eu esquente a dobradinha?


Ana Lima

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Noite Fria

Sempre que o sol se retirar, 
Estenda-se sob a sacada a me esperar.
Assista o que há de mais insinuante,
o trabalho no canavial se dissipar.

Encanta-te com o meu olhar
apressado e provocador,
sonhe com o trote de meu cavalo,
que segue contínuo e rígido.

Entregue-se aos meus braços,
que sempre te reconfortaram.
Relembre nossas juras de amor,
Que de mim, jamais se esvaíram

Traga-me café, bolo e isqueiro.
Pinte tuas unhas de vermelho.
E de como tão desejado...
Implore-me para despir o seu manto.

Sinta-se energizada dos pés à cabeça,
com o tocar de meu corpo.
Presencie o manifesto do calor,
que aquece seu entorno.

Ande depressa, vem logo
Que a nostalgia desse amor
Conturbado e mal acabado, me corrói
Junto aos devaneios e sereno da quente madrugada.

Ana Lima


(Foto do espetáculo: La Casa de Bernarda Alba, direção de Jorge Farjalla)

domingo, 12 de setembro de 2010

Amor, acorda!

Eu tenho um sonho,
gato e cachorro numa só casa,
saias e ternos numa só escala.

Eu tenho um sonho,
achar a bendita agulha no palheiro,
brancos e negros num só gueto.

Eu tenho um sonho.
Princesas e plebeus se tocando,
louboutines e Chinelos num só canto.

Eu tenho um sonho, 
a extinção do vermelho.

A predominância do branco.
Logo alí, no Rio de Janeiro.

Eu tenho um sonho,
verde em abundância,
amarelo dentro do bolso,
e reconforto no coração.

Eu tenho um sonho.
Quero amor.
Eu tenho um sonho.
Abrigo dos extremos num só manto.


Ana Lima

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Futuro já presente


Concreto crescendo,
cinza fervendo.

Sangue brotando,
vermelho manchando.

Capitão abusando,
azul secando.

Feijão faltando,
branco morrendo.

Homem cortando.
No Verde, o marrom morando.

Vermelho azul e branco no comando,
E a ignorância predominando.

Ana Lima

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Lição à Alice



Olhando de perto, todo mundo é feio,

todo mundo é concreto.

Olhando mais de perto, todo mundo quer riqueza

Todo mundo quer afeto.


Pequena Alice, com a condição

de que olhando mais de perto,
bela e generosa for;
Dispense explicações à quem isto não enxergar.


Não te importes se o oposto,

parecerás a olho nu,

Direis que, olhando mais pra frente,

Dinheiro talvez não, mas o amor...
Ah, com certeza este correrás atrás de tu.

Bem-Aventurado é aquele,

que olhos feito microscópio tem,

E com uma mãozinha do coração, contempla

As pequenas mais belas maravilhas do mundo.


Ana Lima

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Contraste da Imortal Beleza

Fotomontagem de Ana Lima


É incrível como Senhor Amor

sobrevive dentre tanta balbúrdia.


Mesmo que distante, ainda o enxergo.
Através da janela do velho quarto,
do estreito buraco da fechadura,
Ou pelo binóculos de meu avô.


Assim, tão divino...
Pequenino e grandioso,
Camuflado e reluzente.


Ana Lima

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Amada Carolina


Ah Carolina, se tu soubeste...
como amo cada partezinha de seu ser,
como desejo ser teu inesquecível amante.

Tens o mais belo sorriso do mundo
e o mais pomposo corpo de mulher.
Pelas manhãs fico a admirar-te pela janela,
como aquele vestido florido lhe cai bem.

Olhinhos apertados quando ri,
sorriso torto quando tímida estás
e laçarotes nos cabelos,
são apenas um charme teu.
Essa mulher é muito mais que isso, ora essa!

Olhe menina, vou te contar um segredo...
Saiba que palavras e rimas
dobram-se e desdobram para aqui,
enfeitar-te, agradar e fazer bem feito.

E ai de mim, mero trovador,
que ando por aí a te amar.
O boato já chegou a toda vizinhança...
Só tu carol linda, que não queres reparar!

Ana Lima

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Relatos de uma Jovem Invadida


E era assim toda vez que ele chegava ...
Era assim todo começo de madrugada.
Sons e gemidos ensurdecedores.

E quando a luz do dia invadia a janela,
e embora ele fosse,
Era o silêncio que minh’alma enlouquecia.

Os cartazes diziam:
“Diga não ao silêncio! Denuncie, quebre-o!”
“Diga não as drogas! Não Fume!”
Comecei a achar que tudo não passava de uma puta hipocrisia.

Na realidade, fora dos papéis e teoria,
a verdade é que tudo ao contrário acontecia.

Às vezes matavam e nem percebiam.
Sempre matavam e jamais percebiam.
Com os sons me comformava a cada dia.
Mas com o silêncio angustiava-me todos os dia.

Pura e pervertida.
Adulta e indefesa.
Santa e prostituta.


Conformada e angustiada.
Era desse jeito, que sobrevivia até o final da madrugada.

Ana Lima

Alta Inflação

- Uma caixa de 24 cores Faber Castell, por favor.
- São R$ 28,90.
- Nossa, caro...
- Oxênti, que graça teria menina, se seu desenho preto e branco fosse?
- Tens razão, vale a pena. Tenha um bom dia!
- Igualmente!


“Papai que me perdoe, não entendo! Porque pintar o desenho com uma só cor? Se todas as outras cores são tão belas, atraentes e fascinantes! Eu quero é variedade de lápis e cores, eu quero é floridos jardins!”

Ana Lima

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Monólogo de Maria

Fotomontagem de Ana Lima.


Cinza.
Preto.

Vermelho.
Branco? Jamais.


Chuva era tempestade,
vento era ventania.
Tudo muito demais,
tudo muito de menos.


Lágrimas eram rios.
Até palhaço bonito era maldito.
O Incolor se perdia entre o preto e o branco e até
fantasia, estripulias, piada, teatro ou circo causava pranto.


O preto lá de fora invadia.
O cinza se camuflava e atingia.
Mas o vermelho vivo de meu sangue...
ah, este sempre permanecia, permaneceu e permanecerá.


Ana Lima

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Querida Liliane



Deixe que corra
que interrompa, que ensandeça...
Não me preocupo, deixe que permaneça.

Deixe que o fogo se alastre,
que o espinho se instale
e que o doce amenize.

Deixe que o mais belo quadro, se exponha
e que o ser mais insano se identifique.

Óh mãe, deixe que haja paladar e prazer
visão e olho nu, afeto e tato.
Deixe que morra suposições e haja fatos.

Deixe que haja flores,
dançando com as demais
em meio ao vento.
Peço-te, deixe que haja movimento!

Deixe que haja renascimento,
inconstância e desafio.
Deixe que se plante lírios.

Desejo agora
que haja frescor.
Sendo brisa ou ventania,
Deixe que haja amor.

Ana Lima

terça-feira, 13 de julho de 2010

DNA

"Sou uma filha da natureza: quero pegar, sentir, tocar, ser. E tudo isso já faz parte de um todo, de um mistério. Sou uma só...Sou um ser. E deixo que você seja. Isso lhe assusta? Creio que sim. Mas vale a pena. Mesmo que doa. Dói só no começo."
(Clarice Lispector)



"Dói só no começo", depois resta-lhe apenas a cicatriz.

Ana Lima

sábado, 10 de julho de 2010

Fome nada convencional

Assim era todo café da manhã, almoço e jantar.
Refeições repletas de ansiedade, melancolia, desespero e até pode notar-se um restinho de amor mal cuidado.
Junto a toda depressão, dinheiro ali também faltava.
Fome que não se compra. Fome que não se mata com arroz e feijão.
Como criança obrigada a comer couve e quiabo, ela ingeria seus própios desconcertos.
E esperava ansiosamente pela sobremesa.
Sobremesa, recompensa ou alívio? O garçom não servia.
E só uma frase ecoava: "Mamãe, eu quero bala!".

Ana Lima

Suicido diário e vida harmônica

Todo o dia há coita
Em toda parte há coita
O passado coitado, assemelha-se
ao presente e talvez, ao futuro

Oh Coita, que tão delicada e intensa é
procure outro rapaz pra morar
E outra moça para matar

Coita que já se faz anestésica...
Não se vá, continue na antiga e mesma casa
Fique, mas fique como senha de cadeado
Como trancas de portão durante a madrugada

Fique como escudo de ferro, que na verdade, feito de papel é
Como disfarce de bandido, que na verdade, máscara de carnaval é
Como contrários convergentes e harmônicos, fique.

Permaneço eu aqui, louco amante,
assustado, encantado e hipnotizado
com tamanha exuberância e atrevimento
Como pode a mais divergência, harmônica ser?

Permaneça, como força vital diária,
e permaneça mesmo que como homicídio noturno
E caminhando ao lado da mais bela nutrição,
permaneça também como antíduto.

Ana Lima